Calçada não é privada. É pública.


Em 2002 quando pesquisamos a percepção dos problemas mais relevantes do bairro, junto à comunidade de Vila Pompeia em São Paulo, tomamos um susto. Ao analisarmos os mais de 500 questionários respondidos, entre perguntas fechadas e abertas, verificamos que o principal problema eleito pelos moradores era o cocô de cachorro espalhado pelas calçadas. Esse fato incomodava mais que drogas, furtos, violência e outros diversos problemas abordados.
Posteriormente, ao se aprofundar melhor sobre o tema foi fácil constatar que esse é um problema recorrente das grandes cidades no mundo inteiro, onde a população de animais de estimação cresceu de forma exponencial.
O dejeto canino é, sem dúvida, um dos maiores problemas de limpeza publica nas metrópoles. Seja em São Paulo, Nova Iorque, Lisboa ou Paris, toneladas e toneladas de dejetos de cães são espalhadas diariamente pelas calçadas, ruas e jardins. Um grave problema de higiene e saúde pública responsável pela contaminação do solo e da água, incluindo até acidentes pelas possíveis “derrapagens”.
Além do incômodo aos transeuntes, esse enorme volume de excremento é um  dos principais fatores que compõem a poluição difusa das cidades. Quando chove toda essa sujeira escorre para as galerias pluviais e vai parar nos córregos, rios e lagoas. 
As leis que tentam coibir esta prática “melequenta” não conseguem sair do papel.
Paris, por exemplo, tem pelo menos 200 mil cães de estimação. A Prefeitura recolhe 16 toneladas diárias de “crotte” (cocô de cachorro), responsáveis por cerca de 650 acidentes por ano, com muitas vítimas de “derrapagens” acabando em hospitais.
O problema é tão grave que o ex-presidente da França, Jacques Chirac, quando esteve à frente da prefeitura de Paris, criou um batalhão de “motocrottes”, motoqueiros que percorriam as ruas equipados com um aspirador específico para coletar “la crotte”.
Pesquisas realizadas na Inglaterra durante 2001/2002, por uma instituição, que faz campanhas socioambientais, chamada ENCAMS, sobre as atitudes de posse irresponsável de donos de cães na questão do cocô de cachorro na calçada, praças e jardins, demonstraram que esses cidadãos que não recolhem os dejetos dos animais têm sempre uma justificativa: A maioria justifica que não sabe o que fazer com o dejeto recolhido. As citações típicas foram: “Se você tem um cão tem que levá-lo a algum lugar.” “Todos fazem a mesma coisa, porque devo fazer diferente?”. “Você não consegue prestar atenção ao seu cão todo o tempo”.
Não fizemos ainda esse tipo de pesquisa no Brasil. Mas, parece que as respostas não seriam muito diferentes.
Após ter testado vários anúncios com proprietários de cães, a ENCAMS concluiu que as táticas de choque mostrando o excremento e mensagens que explicam a ligação com doenças são as formas que causam mais impacto. Nos testes, os donos de cães disseram que mudariam seu comportamento e recolheriam os dejetos se os anúncios explicassem o que fazer, sobre os perigos do excremento do cão e da sua ligação com a  “toxocariasis”.
Voltando ao caso da Vila Pompeia, por inciativa da ONG Millenium em parceria com a APPA – Associação Pompeia de Preservação Ambiental e com a criação da Advert Comunicação Social, foi lançada neste mesmo ano de 2002 a“Campanha Calçada Limpa. Porque calçada não é privada. É pública.”Com apoio, na época, da Purina e da Bayer.
A estratégia era composta de distribuição de cartazetes e adesivos que foram afixados pela própria comunidade por todo o bairro (antes da lei cidade limpa). Educadores ambientais abordavam os moradores em pontos estratégicos com folhetos explicativos sobre riscos e dando dicas de como recolher o cocô do cachorro. O esforço de Marketing Social conseguiu reduzir em pelo menos 80% o cocô espalhado pelas calçadas. No inicio com um problema grave: As pessoas recolhiam o cocô de cachorro, a maioria em sacos plásticos, e depositavam aos pés das árvores por ausência de lixeiras na cidade. Isso se amenizou, posteriormente, com a implantação das lixeiras nos postes.
A iniciativa deu tão certo que a campanha migrou para outros bairros, como Higienópolis, por exemplo, e outras cidades.
Esse e outros casos você poderá analisar e debater comigo na FIA, no curso Marketing Social – promovendo um comportamento sustentável.
http://www.fia.com.br/educacao/extensao/Paginas/marketing-social.aspx

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